Mauricio Stycer: televisão trouxe fenômenos inéditos nessas eleições

  • Por Jovem Pan
  • 24/10/2018 13h13
Johnny Drum/Jovem Pan Para o jornalista, a televisão ainda tem algum poder de influência, mas disputa com a internet

O convidado do Morning Show desta quarta-feira (24) foi o jornalista e mestre em sociologia pela USP, Mauricio Stycer. Autor dos livros “Adeus Controle Remoto” e “Topa Tudo Por Dinheiro – As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos”, ele falou sobre o papel da TV nas eleições deste ano, o entrelaçamento da vida de comunicador com a política do dono do SBT e sobre o futuro da televisão.

Stycer já ressaltou, logo de início, que a televisão trouxe fenômenos inéditos na disputa eleitoral esse ano. “O caso do Alckmin é um fenômeno realmente. Isso mostra que a televisão não influenciou no crescimento do Bolsonaro e nem na derrocada do Alckmin. Mas ainda há fatos importantes, por exemplo, a transferência de votos de Lula para Haddad”, disse. Para ele, que também escreve sobre TV em um blog no jornal Folha de S.Paulo, o candidato petista não teria crescido tão expressivamente após substituir Lula não fosse o esforço para transferência das intenções de votos de lulistas em rede nacional nas propagandas eleitorais gratuitas.

Outro caso interessante que surgiu foi a ascensão, ainda que tímida, do candidato do Patriota, Cabo Daciolo, “ele foi o Enéas da eleição. O Daciolo criou aquele bordão “glória a Deus” e nos debates teve participação cômica. Ele acabou na frente de outros candidatos como a Marina”, pontuou. De fato, as eleições trouxeram novidades. As pesquisas de intenção de votos anteriores ao 1º turno não previram que Daciolo reuniria mais votos que Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).

Entrevistas dos candidatos

O jornalista criticou, ainda, a condução das entrevistas dos candidatos nos canais abertos, em especial as conduzidas pela bancada do Jornal Nacional. “Aquelas entrevistas na TV não pareciam entrevistas. Por que eu estaria interessado na opinião do entrevistador? O [William] Bonner se expôs tanto para fazer o contraposto que foi um erro.

“Eu entendo o objetivo, era não deixar o candidato fazer propaganda, mas acho que foi exagerado, dá para fazer isso de outras formas, tornando a conversa mais objetiva. Isso é fundamental no jornalismo, não podemos deixar o cara fazer discurso, mas temos que cobrar. Os entrevistadores ocuparam 40% do tempo das entrevistas, quem é jornalista sabe que isso é totalmente fora da curva”, criticou.

Silvio Santos

O novo livro de Stycer, “Topa Tudo Por Dinheiro – As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos”, traz análises sobre a confluência entre a vida de apresentador e comunicador do fundador do SBT e sua breve vida política logo após a redemocratização. “O que me interessou foi recontar um pouco da trajetória dele tendo em vista que Silvio é um comunicador extraordinário, mas não é o mito, a lenda, como é tratado. Isso me incomodava um pouco. Quem é esse cara de verdade. É um cara genial, mas que é complexo, cometeu erros”, aponta.

Silvio Santo tentou se eleger quatro vezes em um curto período e não conseguiu em nenhuma ocasião. A tentativa mais icônica mirou a presidência. “Alguns aspectos da vida do Silvio foram mal contados, mal explicados. Ele tentou ser candidato 4 vezes. Ele teve ofertas de partido na eleição de 1989, a primeira da redemocratização. Acho que foi um momento de perda de lucidez, uma coisa meio messiânica. Foi um delírio dele, algo como ‘acho que vou ajudar o povo’”.

Futuro da televisão

O futuro da televisão foi consenso entre o time do Morning Show e o convidado:  para ambos, a televisão passou a ser consumida por pessoas diferentes de maneiras diferentes, mas ainda tem muito que crescer. Dois pontos saltam aos olhos, segundo Stycer. O primeiro é a falta de estrutura, especialmente banda larga, para que os novos formatos de consumo se ampliem. O segundo é a dificuldade de acesso das pessoas a canais variados além dos abertos, o preço da TV a cabo ainda pode ser uma barreira nesse sentido.

Mauricio Stycer deixou sua dica para as emissoras de televisão do ponto de vista do consumidor, “a audiência em TV aberta diminuiu, mas o público que assiste ainda é expressivo. Se pegarmos três séries que gostamos, assistirmos em sequência, fica difícil voltar a ver novela. Muita gente vê novela porque ainda não têm acesso a esses conteúdos mais robustos”, concluiu.

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